terça-feira, 9 de março de 2010

Relatos de uma Meia Maratona - Ivo Cantor*



Meia Maratona Internacional de São Paulo, realizada em 7 de março de 2.010,

Realizada a partir da Praça Charles Miller, defronte ao monumental Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, no aristocrático bairro Pacaembú da cidade de São Paulo, esta prova caiu no gosto da comunidade corredora que aprecia provas de longa distância. No caso, 21.097m ou 21km como é mais conhecida. Para mim, não é a prova-alvo pois basicamente estou focado em maratonas. Utilizo a distância como lastro de quilometragem, experiência de estratégias, teste de resistência e outros experimentos a partir dos relatos que envio ao treinador. No jargão esportivo, isso chama-se feedback. E assim vou treinando até o dia da próxima maratona.

Esta prova de domingo foi minha primeira participação em corridas do meu calendário oficial de 2.010. Atrai-me a ótima organização, o grande espaço livre para se acomodar, a oportunidade de rever meus amigos – que não perdem esta prova de jeito nenhum -, a bonita camiseta, a beleza do lugar, a temperatura já mais amena, a severidade da prova com suas subidas e vaivéns.

Sou beneficiado pelo valor da inscrição, que além de não ser alto ainda me proporciona 50% de desconto em função da idade, superior a 60 anos.

Assim animado, fui à capital no sábado, sob intensa chuva da tarde, para retirar o kit de participação. Tudo rápido e eficiente, denotando o padrão de organização, já festejado pela comunidade há algum tempo.

A prova estava marcada para as 8h do domingo. Pensando nisso, acomodei-me cedo não sem antes verificar todos os detalhes do que iria supostamente precisar para correr. Isso inclui o tipo de tênis, camiseta, peitoral, alfinetes, meias, chip, freqüencímetro, boné, protetor solar, vaselina, gel, repositor eletrolítico, bolsa térmica com fruta, biscoito salgado, água, gatorade, chinelos para voltar, documentos e miudezas várias. Um ritual demorado, rotineiro, minucioso mas gostoso de fazer.

A refeição que antecede o dia é cuidadosa : sem novidades, sem experimentar nada novo. Apenas macarrão cozido sem molho algum, pão sem nada, uma fruta e só. Desta vez, fiz um aporte de proteína, na forma de sardinha- em-lata ao molho de limão. E já fiquei preocupado; mas não houve nenhum problema.

Acordei cedo, às 5h. Visto o uniforme completo para ver se nada falta. O desjejum é mais simples ainda : suco de laranja, duas fatias de pão branco sem nada – conhecido no Paraná com pão-com-língua -, banana com aveia. Nem café – nunca fico sem – para evitar a perda de líqüido. Cafeína estimula mas causa diurese; portanto, nessas ocasiões me abstenho. O ganho é grande : há redução significativa na vontade de micção.

Teminados esses preparativos, é hora de partir para a arena. Em dez minutos, estaciono e já vem o primeiro, desagradável e inevitável achaque : os tais guardadores de carro. Não há como discutir, o prejuízo seria muito maior que os dez reais que pedem.

Não me incomodo com essas insignificâncias pois meu objetivo é maior. E já vou dar um passeio para ver as coloridas tendas já fervilhando de gente, e à procura dos rostos conhecidos.

Distraimo-nos, eu e Marly, com as fotos. Encontro meus amigos, observo o movimento incessante; pelo jeito, serão milhares de participantes. E não me engano : foram quase 6 mil concluintes nas duas provas, a meia maratona e a prova de 10km.

Aproxima-se as 8h, horário de início. Há entradas diferentes, conforme seu ritmo demarcado na inscrição. Eu, por exemplo, recebi um adesivo verde, que me remete ao portal da mesma cor, para expectativa de 2h para conclusão.

E ali fico, entre aquecimento e alongamento, observando os curiosos rituais que cada um apresenta.

Soa a buzina e partimos. Ou melhor, ouvimos e continuamos parados pois a massa move-se muito lentamente. Gasto mais de 5min para cruzar o pórtico e iniciar minha corrida.

Saio firme em busca do km1 para verificar meu ritmo. O 1º.quilômetro sai em 5’18” , que não é minha expectativa. Meu plano é fazer cada km abaixo de 6min, mas não nesta severidade pois não darei conta do recado. O segundo já sobe para 5’35”, ainda irreal contudo mais próximo do ideal. E aí vou já me distraindo com as conversas, com os mais afoitos já reduzindo. Certamente sairam nos portais inadequados e já vão se ajustando à dura realidade.

Como sempre carrego minha garrafa com gatorade, dispenso um ou outro posto de água e economizo preciosos segundos.

E lá vem a subida do Elevado, a primeira dor-de-cabeça. E virão outros desafios. Passo os 5km com 26min, meio forte para manter mas...a temperatura está tão boa que adio a freiada para mais tarde. Pretendo ir assim, forte para meu padrão, até os 10km e depois maneirar. Engulo o gel número 1, pego um copo d’água geladinha, padrão Sabesp. Boa, por que não?

Chego aos 10km com 54’! Uma beleza, quase se foi a metade e tenho um bom crédito para a segunda parte, quando o sol começa a dar as caras. Mas há ruas com muita sombra e vou escolhendo o caminho, tangenciando onde posso, economizando cada passo.

Não visualizei a placa do 11. A marcação é deficiente, primeiro defeito de organização. No km 12 estou com 1h05 e já começo a vislumbrar a quebra de recorde da distância nesta prova, onde sempre ultrapasso 2h. Mas é cedo para me animar. Entretanto, consigo manter 5’35” até o km 19, a última descida. Aí, mando ver firme : é descida, é quase fim da parada, e depois vem 2km em aclive, suave mas subida até o últimos metros, portanto vamos aproveitar.

A parte bonita do trajeto – centro da cidade – tem alguns sobe-e-desce de lascar. Concluida esta parte, há o Elevado novamente. É a parte desanimadora, quando a energia vai se esvaindo e a gente fica de olho no relógio, para não ultrapassar os 6’/km nem subir demais o bpm, a esta altura já em 160, por volta do km15, mas dentro do ritmo.

O coração teima em ficar em 160 e fico de olho. As pernas estão firmes, a respiração não se altera; estou é sentindo já o calor do sol firme mas hoje eu chego antes de 2h, já tenho certeza.

Mas para que isso aconteça é preciso sebo-nas-canelas e não afrouxar o ritmo. Mas o km20 é difícil, ensaio uma reduzida, o bpm sobe a 166. Faço as contas e vejo que, mesmo assim, fecharei abaixo de 2h.

Fecho o km20 com 1h50’23” e bpm 164! Não falta nada, não desanime! É o que gritam os auxiliares de trânsito. Então, vamos lá, para o último quilômetro, a última subida, a última volta na frente de Estádio, e feliz da vida vejo Marly acenando e cruzo o pórtico com1h56’18”!

Nem acredito, bati o recorde nesta prova e em todas as meias maratonas que fiz, desde a primeira, em 2.002.

Credito esta realização à temperatura ideal, à experiência das disputas anteriores, à descontração que consegui, à boa noite de sono anterior, ao lastro de rodagem e ao treinamento em si, minuciosamente elaborado pelo meu treinador.

À Marly -que sempre me acompanha e cuida de todos os detalhes - , ao meu treinador José Vítor, à minha nutricionista Mônica e a todos os meus amigos de corrida dedico esta vitória e alegria.

Obrigado a todos, Ivo.

* Material enviado pelo Ivo Cantor e também disponível no blog: http://www.ivocantor.blogspot.com/


Um comentário:

  1. Prezado Agnaldo, agradeço a gentileza da divugação do texto. Um abraço a todos os esportistas de ALA&Amigos.

    ResponderExcluir